Pais enterrarem filhos é contra a lei da natureza. Cada vez que vejo esta cena, meu peito se aperta, pois sei que as marcas deixadas por esta experiência vão sangrar até o último momento de vida.
Nesta semana, tive a tristeza de enterrar um amigo que, aos 35 anos, sofreu um ataque cardíaco fulminante. Acompanhei todo o processo. Como todos em volta, o maior medo era o momento de contar para a mãe dele. Passei a noite em pânico. Dizer a uma mãe que de uma hora para outra ela não tem mais um filho é complicado. No dia seguinte, quando cheguei ao beco, encontrei todos de luto. Fui direto ver a dona Valquíria, carinhosamente chamada de Tia Quica.
Já tinham contado. Ela estava com os olhos fundos de tristeza e dor, mas com uma força que nos acalentava cada vez que levantava a cabeça. Quando a abracei, não vi lágrimas em seus olhos. Ela me disse baixinho: "Precisamos ter força e fé nessa hora."
Me assustei, eram as palavras que eu deveria dizer. No meio do caos, enquanto alguns desabavam, ela (que tinha todas os motivos para estar sedada) só aceitava chá e orações.
Senti vergonha por ser tão fraco, senti vergonha por muitas vezes deixar a lágrima cair. Daquele momento em diante, não chorei mais. Até achei que ela segurava no osso por ainda não ter caído a ficha. Mas ela me disse que foi por acreditar que ele estava nos braços de Deus. Que ela foi feliz por criar um filho tão bom. Ele partiu, mas deixou alegrias.
Quando vi a neta mais velha sendo consolada por ela, entendi que sua força não vinha de um súper poder, mas da necessidade de cuidar dos outros. A dor de mãe precisava ser menor que o dever de mãe. Mesmo na hora do sepultamento, ela mais consolava que era consolada.
Fico abismado com situações como essa. Mulheres como ela mostram que nós homens somos o verdadeiro sexo frágil.
Quando o dia acabou, desejei um dia ser homem como Tia Quica.
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