segunda-feira, 21 de março de 2016

Crítica | Demolidor: 2ª Temporada



 Depois de uma primeira temporada de sucesso e com novos personagens saídos direto das páginas dos quadrinhos, a segunda temporada de Demolidor não é perfeita, mas cumpre uma boa parte do que promete. (Não há spoilers nessa crítica.) 



O sucesso da primeira temporada deveu-se, acima de qualquer coisa, à fidelidade aos quadrinhos. Tanto na ambientação quanto na construção dos personagens, parecia que os quadrinhos da Marvel haviam pulado direto para a tela. Um feito admirável, realmente. A qualidade das séries se manteve na aclamada Jessica Jones, e esse sucesso retumbante garantiu para o Demônio de Hell's Kitchen uma segunda temporada. E para atiçar ainda mais os fãs, o Justiceiro foi anunciado na temporada. O anti-herói tem nos quadrinhos um relacionamento conturbado com o Demolidor. Às vezes antagonista, às vezes aliado, Frank Castle tem no Demolidor uma contraparte muito interessante na nona arte. Não é de se surpreender então que a relação entre os dois seja o ponto alto da temporada, sem nenhuma dúvida. 



Somos apresentados não ao feliz vingador à la Charles Bronson do Justiceiro havaiano de 2004, nem ao metido a badass com efeitos de filme trash do filme de 2008 estrelado por Ray Stevenson (o Volstagg dos filmes do Thor). Aqui temos um Frank Castle completamente perturbado e com tendências psicopatas. Ele não poupa balas e destruição em sua guerra ao crime, e a violência justificada do personagem é usada em toda a sua glória explorando a censura +18 e a liberdade de uma série para mídia fechada que Demolidor tem. Parece um quadro escrito por Garth Ennis toda vez que vemos um banho de sangue criminoso causado pelo anti-herói, ao mesmo tempo uma pintura cheia de tons de vermelho parece preencher a tela. A maestria da interpretação de Jon Bernthal, nesse aspecto, dá uma verossimilhança que nunca se viu no personagem em outras mídias. Não só podemos criar empatia pela dor de Frank Castle, como podemos mergulhar na sua psiquê completamente perturbada. E é claro, como anunciado, temos Elektra nessa temporada, e infelizmente ela torna-se um ponto fraco da série. Enquanto na primeira metade da temporada temos um roteiro, atuações e cenas de tirar o fôlego com a história do Justiceiro, não se tem o mesmo efeito com a introdução do famoso amor da vida de Matt Murdock. 



Elodie Yung é uma atriz decente, mas ela tenta com dificuldade fazer com que o público compreenda sua assassina com crises de menina rica. Mesmo quando vemos a verdadeira face de Elektra, ela parece superficial, apagada. Bem diferente da personagem criada por Frank Miller nos quadrinhos. Com as tramas envolvendo a ameaça do Justiceiro e o famoso clã Tentáculo (que nas legendas é literalmente traduzido como "A Mão") os roteiros dos episódios são em alguns momentos grandiosos, e em outros, um pouco confusos. Há uma certa procura pela grandiosidade em uma parte da série. Lutas bem coreografadas mas desnecessariamente longas tiram um pouco do brilho criado pelo clima sombrio e mais contido da primeira temporada. Ainda assim, tudo é compensado nas magníficas cenas entre Demolidor e Justiceiro. Os diálogos maravilhosamente entregues pelos competentes Charlie Cox e Jon Bernthal são tão viscerais quanto as lutas sujas e poderosas entre os dois personagens. São momentos de fazer qualquer espectador pular da cadeira, e que fazem um tradicional fã de quadrinhos ficar extasiado. O retorno de alguns personagens é feito de forma magnífica, enquanto o de outros poderia ser melhor entregue. Foggy Nelson e Karen Page continuam ótimos, mas as tramas que envolvem a "irresponsabilidade" de Matt Murdock para com os amigos em prol de sua vida de vigilante tornam-se muito arrastadas e cansativas, para não se dizer completamente desnecessárias. Existem momentos em que esse conflito entre as duas vidas de Matt são muito bem trabalhados, em outros, soa quase como egoísmo as incessantes tentativas de seus amigos pessoais para trazê-lo para o "mundo real". Uma reclamação da primeira temporada, o uniforme apresentado no último episódio tem algumas alterações quando usado como uniforme efetivo do Demolidor. Alterações essas que nos fazem sentir saudades do uniforme anterior. A máscara, brilhante e malfeita, chega a ser distrativa em muitos momentos. Não afeta a qualidade dos episódios, mas certamente é um ponto negativo. Enquanto o protagonista luta contra seus dilemas pessoais e tenta combater inimigos ancestrais com o apoio de antigos e novos aliados, é no Justiceiro que a série tem seus melhores momentos. 



E é na transformação do assassino de criminosos em anti-herói (com direito a caveira branca e tudo mais) que temos o prazer da descoberta que nos levou a querer saber mais sobre o Demolidor na primeira temporada. As nuances de Frank Castle, sua batalha com o submundo e sua busca por vingança tomam toda a cena quando aparecem, em alguns momentos até mesmo ofuscando a trama principal dos episódios. No final das contas, a 2ª temporada de Demolidor é sim um avanço em relação à primeira. A série continua sendo a melhor adaptação até o momento de quadrinhos para a tela pequena, e mesmo com seus altos e baixos, se assume como uma adaptação de quadrinhos e não faz feio na entrega. Os personagens continuam interessantes, os roteiros mesmo com alguns furos continuam excelentes, e voamos sem culpa e até sem perceber pelas 13 horas de temporada. Parece que o terreno está se preparando para a clássica de Frank Miller "A Queda de Murdock", o que nos faz pedir por uma terceira temporada sem demora, com a mesma qualidade entregue nas duas primeiras. O Demolidor continua sendo um personagem muito interessante e tridimensional nas mãos da Netflix, mas que me perdoe o defensor de Hell's Kitchen: dessa vez, os holofotes são do Justiceiro.



Fonte: http://batman-brasil.blogspot.com.br/2016/03/critica-demolidor-2-temporada-sem.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário