Super-homens
Pessoas comuns usando fantasias e nomes falsos para fazer o bem e combater o crime. Conheça o fenômeno dos super-heróis da vida real
por Alexandre Rodrigues
Todo super-herói tem uma tragédia em sua origem. O Batman assistiu ao assassinato dos pais ainda menino. O Super-Homem sofre por ser o único sobrevivente de um planeta que explodiu. O Homem-Aranha se balança em teias para compensar um erro - deixou fugir o bandido que depois matou seu tio. Mas Sarah só precisou levar um pé na bunda para se tornar Terrífica, que luta para impedir que outros tirem vantagem de mulheres indefesas.
Ela é magra, tem os cabelos louros, bonitos olhos azuis e um gosto péssimo para uniforme - o seu consiste em máscara, calça, malha e botas púrpuras e um sutiã de metal por cima da roupa. Carrega uma "pochete de utilidades" na qual há de chocolates a preservativos para cumprir sua missão: percorre a noite de Manhattan e adjacências abordando mulheres. Por sua obsessão em tentar impedir que homens se deem bem com as mulheres que beberam demais à noite, a heroína nova-iorquina foi apelidada de anti-Sex and the City. "Minha motivação é simples. Eu tento ensinar a mulheres que elas não precisam de proteção, admiração, o que for", diz Sarah, a mulher de coração partido. "Não é preciso ter superpoderes para alguém cometer erros. Erros terríveis."
Terrífica é uma candidata a terapia e também a representante feminina mais famosa de um bizarro fenômeno da cultura pop que vem ganhando força no hemisfério norte. É cada vez mais frequente pessoas comuns vestirem fantasias para defender uma causa ou mesmo combater o crime. Há um boom de super-heróis da vida real (ou RLSH, sigla mais ou menos popularizada nos países onde eles atuam). São bancários, universitários, ex-policiais, que usam nomes como Lebre da Sombra e Capitão Discórdia sem medo do ridículo. Em vez da Liga da Justiça, se aliam em organizações como Sociedade da Segunda-Feira Negra e Tropas dos Combatentes do Crime. De acordo com o site Super Hero Registry, há mais de 300 na ativa: são 6 na Europa, 2 no Canadá, 1 no México - no Brasil, até a publicação e repercussão desta matéria, nenhum. Todo o resto está nos EUA. Se ainda estivesse vivo, um sujeito chamado Fredric Wertham veria essa estatística com orgulho e preocupação.
Tradição americana
Em 1954, o Senado americano organizou o equivalente a uma CPI para diagnosticar o suposto mal que as histórias em quadrinhos estavam causando a milhões de crianças e adolescentes. Assumidamente inspirada no livro Seduction of the Innocent ("Sedução do Inocente", sem versão em português), lançado naquele ano pelo psiquiatra Fredric Wertham, a comissão era um palco para o doutor expor suas ideias. Acuados, editores tiveram de engolir que seus gibis eram "um fator importante em muitos casos de deliquência juvenil" - lembra a polêmica atual sobre videogames (ver pág. 38).
Se Wertham foi preconceituoso por um lado, acabou acertando por outro: detectou entre alguns fãs de super-heróis o complexo de Super-Homem - um senso exagerado de responsabilidade, aliado à crença de que ninguém é capaz de se virar sozinho e uma necessidade constante de "salvar" os outros. Seria o contrário do "efeito espectador", em que cidadãos obedientes à lei, diante de um crime, não se envolvem, achando que outros vão fazê-lo. Para Bart Beaty, especialista na obra de Wertham, essa compulsão por se envolver já existia na cultura americana, mas pode ter se acentuado após a comoção com o 11 de Setembro, levando ao surgimento desses heróis de verdade.
"O movimento está crescendo. Já são mais de 300 no Super Hero Registry? Veja só, há um ano eram 200", diz Ben Goldman, historiador informal do fenômeno e também um herói - ele usa o nome de Cameraman, por sua dedicação a documentar em vídeo as ações dos colegas. Segundo ele, a crise financeira que abalou os EUA no ano passado deu o impulso que faltava para que alguns caíssem no heroísmo . "Muitos perderam renda, o emprego, suas casas, passaram por crises existenciais e pararam para pensar em quem eram de verdade. Algumas pessoas começaram a dar mais valor a sua vocação do que a suas posses. E muitos acham que nasceram para ser super-heróis, por que não?"
Fazendo diferença
"As pessoas estão cheias de indiferença e apatia, mas há homens e mulheres que querem fazer diferença. Somos um movimento, mais do que um bando de caras usando roupas de elástico", diz Dave Pople, ex-profissional de luta livre, ex-boxeador, ex-fuzileiro naval, ex-cadete da academia de polícia. Ocupação atual: super-herói sob a alcunha de... Super-Herói. O uniforme, como os de seus colegas, foi claramente inspirado nos dos heróis dos quadrinhos (ver quadro nesta página). Como os outros super-heróis, não pode carregar armas para não correr o risco de ser preso por vigilantismo. Apesar do corpo avantajado (ou talvez por causa dele), garante que jamais precisou agredir um suspeito. No que consiste, então, o seu super-heroísmo? Bem, em um domingo à tarde pode estar patrulhando a praia de Clearwater, Flórida, onde vive, verificando se os vendedores têm licença. Ou trocando um pneu numa estrada. Mas, como a maior parte de seus colegas, faz caridade: com outros heróis da região, ele formou o Time Justiça, que reúne e doa brinquedos.
Ela é magra, tem os cabelos louros, bonitos olhos azuis e um gosto péssimo para uniforme - o seu consiste em máscara, calça, malha e botas púrpuras e um sutiã de metal por cima da roupa. Carrega uma "pochete de utilidades" na qual há de chocolates a preservativos para cumprir sua missão: percorre a noite de Manhattan e adjacências abordando mulheres. Por sua obsessão em tentar impedir que homens se deem bem com as mulheres que beberam demais à noite, a heroína nova-iorquina foi apelidada de anti-Sex and the City. "Minha motivação é simples. Eu tento ensinar a mulheres que elas não precisam de proteção, admiração, o que for", diz Sarah, a mulher de coração partido. "Não é preciso ter superpoderes para alguém cometer erros. Erros terríveis."
Terrífica é uma candidata a terapia e também a representante feminina mais famosa de um bizarro fenômeno da cultura pop que vem ganhando força no hemisfério norte. É cada vez mais frequente pessoas comuns vestirem fantasias para defender uma causa ou mesmo combater o crime. Há um boom de super-heróis da vida real (ou RLSH, sigla mais ou menos popularizada nos países onde eles atuam). São bancários, universitários, ex-policiais, que usam nomes como Lebre da Sombra e Capitão Discórdia sem medo do ridículo. Em vez da Liga da Justiça, se aliam em organizações como Sociedade da Segunda-Feira Negra e Tropas dos Combatentes do Crime. De acordo com o site Super Hero Registry, há mais de 300 na ativa: são 6 na Europa, 2 no Canadá, 1 no México - no Brasil, até a publicação e repercussão desta matéria, nenhum. Todo o resto está nos EUA. Se ainda estivesse vivo, um sujeito chamado Fredric Wertham veria essa estatística com orgulho e preocupação.
Tradição americana
Em 1954, o Senado americano organizou o equivalente a uma CPI para diagnosticar o suposto mal que as histórias em quadrinhos estavam causando a milhões de crianças e adolescentes. Assumidamente inspirada no livro Seduction of the Innocent ("Sedução do Inocente", sem versão em português), lançado naquele ano pelo psiquiatra Fredric Wertham, a comissão era um palco para o doutor expor suas ideias. Acuados, editores tiveram de engolir que seus gibis eram "um fator importante em muitos casos de deliquência juvenil" - lembra a polêmica atual sobre videogames (ver pág. 38).
Se Wertham foi preconceituoso por um lado, acabou acertando por outro: detectou entre alguns fãs de super-heróis o complexo de Super-Homem - um senso exagerado de responsabilidade, aliado à crença de que ninguém é capaz de se virar sozinho e uma necessidade constante de "salvar" os outros. Seria o contrário do "efeito espectador", em que cidadãos obedientes à lei, diante de um crime, não se envolvem, achando que outros vão fazê-lo. Para Bart Beaty, especialista na obra de Wertham, essa compulsão por se envolver já existia na cultura americana, mas pode ter se acentuado após a comoção com o 11 de Setembro, levando ao surgimento desses heróis de verdade.
"O movimento está crescendo. Já são mais de 300 no Super Hero Registry? Veja só, há um ano eram 200", diz Ben Goldman, historiador informal do fenômeno e também um herói - ele usa o nome de Cameraman, por sua dedicação a documentar em vídeo as ações dos colegas. Segundo ele, a crise financeira que abalou os EUA no ano passado deu o impulso que faltava para que alguns caíssem no heroísmo . "Muitos perderam renda, o emprego, suas casas, passaram por crises existenciais e pararam para pensar em quem eram de verdade. Algumas pessoas começaram a dar mais valor a sua vocação do que a suas posses. E muitos acham que nasceram para ser super-heróis, por que não?"
Fazendo diferença
"As pessoas estão cheias de indiferença e apatia, mas há homens e mulheres que querem fazer diferença. Somos um movimento, mais do que um bando de caras usando roupas de elástico", diz Dave Pople, ex-profissional de luta livre, ex-boxeador, ex-fuzileiro naval, ex-cadete da academia de polícia. Ocupação atual: super-herói sob a alcunha de... Super-Herói. O uniforme, como os de seus colegas, foi claramente inspirado nos dos heróis dos quadrinhos (ver quadro nesta página). Como os outros super-heróis, não pode carregar armas para não correr o risco de ser preso por vigilantismo. Apesar do corpo avantajado (ou talvez por causa dele), garante que jamais precisou agredir um suspeito. No que consiste, então, o seu super-heroísmo? Bem, em um domingo à tarde pode estar patrulhando a praia de Clearwater, Flórida, onde vive, verificando se os vendedores têm licença. Ou trocando um pneu numa estrada. Mas, como a maior parte de seus colegas, faz caridade: com outros heróis da região, ele formou o Time Justiça, que reúne e doa brinquedos.
Mas alguns mantêm uma aura de mistério e dizem viver nas sombras espreitando malfeitores. "É como eu posso ajudar os outros", diz O Olho, herói de Mountain View, Califórnia. Na internet, se apresenta como um ex-detetive particular que passou 25 anos em empresas do Vale do Silício e hoje vigia sorrateiramente o crime, reunindo provas para a polícia. Aos 51 anos, percorre a cidade de carro usando equipamentos que ele mesmo inventa - como uma bengala-câmera, um rádio-periscópio e uma lanterna laser - para vigiar criminosos. Ao seu lado, leva a mulher, ela também uma super-heroína, que adota o codinome de Lady Mistério. "O parque Mercy Bush tem sido a cena de alguns avistamentos estranhos em várias patrulhas. Eu vi vandalismo, duas pessoas fazendo sexo sendo filmadas por uma terceira e, em geral, todo tipo de esquisitos que são atraídos para esse lugar quando cai a noite", registrou em seu blog sobre uma patrulha noturna.
O fenômeno é mais forte nos EUA, mas já atravessou o Atlântico. "Sou detetive e combatente do crime", se apresenta Entomo (latim para "inseto"), italiano de 32 anos. Com a identidade mais ou menos secreta - diz que 13 pessoas próximas sabem quem ele é -, dedica-se a evitar o vandalismo nas ruas de Nápoles desde 2007, quando se inspirou com a história de Terrífica. Ele conta que passou por treinamento antes de assumir a vida dupla, mas sua grande vantagem, assegura, são as habilidades paranormais. "Eu injeto justiça", diz, sem dar mais detalhes. "Hoje é meu terceiro aniversário comoherói. Obrigado a todos pelo apoio. Eu irei celebrar patrulhando as ruas toda a noite", comemorou Entomo dia 2 de março na sua página no MySpace - que, a propósito, também informa que está interessado em conhecer mulheres.
Sala (virtual) da Justiça
Não haveria os super-heróis de verdade sem a internet. O fenômeno é efeito da web 2.0, que impulsionou uma profusão de blogs e páginas de redes sociais, para heróis e grupos dos quais fazem parte. "Os interessados no assunto juntaram forças, viram que não estavam sozinhos", diz Goldman/Cameraman. Em fóruns na rede, veteranos e novatos trocam experiências e dicas. Onde encontrar spandex, o tecido dos uniformes dos super-heróis, mais discretos? Camadas de Kevlar, como nos quadrinhos, realmente protegem contra uma bala? (A resposta é não.)
Às vezes, esses fóruns servem para mostrar que a realidade não é tão exigente quanto a ficção. Em seu livro Becoming Batman ("Virando Batman", sem versão em português), o neurocientista canadense E. Paul Zehr estimou entre 15 e 18 anos o tempo que Bruce Wayne levou treinando para ser o Cavaleiro das Trevas. Para o autor, Wayne é um atleta capaz de ser campeão olímpico no decatlo. "Quero virar um super-herói, mas tenho vergonha da minha barriga", explica o novato em um tópico de discussão. "Calma. Você deve ter notado que há muito super-herói fora de forma", responde, tranquilizador, um veterano.
Se você acha que está faltando conflito, não falta mais: protegidos pelo anonimato virtual, já começam a surgir os primeiros supervilões. "Suas ações não significam nada para mim. Vocês heróis são como um brinquedo de plástico. Um inseto pedindo para ser esmagado", desafiou Horizonte Negro em seu vídeo de apresentação no YouTube. Como a maioria dos heróis da real, ele também não perde a chance de dar entrevistas. "Não pode haver um super-heróisem um super-vilão", defende. "E, como os super-heróis estão se espalhando por aí, aqui estou." E no que ser um vilão pode ser enriquecedor? "Eu gosto de ver adultos e crianças sofrer." Como os heróis se reúnem em grupos, os "supervilões" também formaram o seu: o Círculo Negro - por enquanto, suas maldades ficaram só na promessa. E sinta-se perdoado quem começar a rir sabendo que um dos artífices das forças do mal é o Masturbador Negro.
Mas a internet ainda não foi capaz de proporcionar a qualquer dos novos heróis o tipo de fama do veterano Superbarrio Gómez, na ativa desde os anos 80. Quando jovem, nos anos 70, foi guerrilheiro e afirma ter participado de 3 assaltos a bancos. Mais tarde, nos anos 80, o militante passou a se apresentar como um bizarro personagem que, com uma máscara de luta livre e um uniforme que lembra o do Chapolin Colorado, começou a aparecer em protestos populares e greves de trabalhadores na Cidade do México. Embora nunca tenha concorrido em seu país, em 1996 se tornou uma celebridade internacional ao se proclamar candidato alternativo à Presidência dos EUA.
Desde então, foi tema de dois livros, apareceu na série inglesa de quadrinhos 2000 AD Presents e também foi tema de um curta-metragem animado, La Vuelta de Superbarrio ("O Retorno de Superbarrio"). Com quase 60 anos - sua idade correta é desconhecida -, aposentou-se no início da década e revelou a identidade secreta: Marco Rascón Córdova. Mas, assim como o personagem Fantasma, a honra de ser Superbarrio parece passar adiante: desde 2005 outro sujeito veste o uniforme. Sua página no Facebook informa: ainda está na ativa.
Vida real
A Califórnia é um dos estados americanos onde o Olho pode agir. Na Carolina do Norte, por exemplo, cidadãos comuns são proibidos de prender alguém. Se algum deles fizer isso, pode ser detido por sequestro. Apesar de até achar positivo um grupo de cidadãos dispostos a ajudar, a polícia de San Diego, também na Califórnia, que vive uma epidemia de heróis, deu o recado: o combate ao crime só pode ser feito sem violência. E sugere aos heróis apenas denunciarem crimes e depois servirem de testemunhas. A resposta do público - como era de esperar - fica entre o apoio e o deboche. Em Nova York, um encapuzado chamado Vida reclama de moradores que atiram objetos das janelas - o paladino da justiça foi atingido por um pedaço de carne crua.
Mas os super-heróis da vida real têm um motivo para não desanimar: conseguiram empolgar ninguém menos do que Stan Lee, o criador de Hulk, Homem-Aranha, Homem de Ferro e outros heróis. "Se alguém está cometendo um crime, se alguém está machucando outra pessoa, é quando um super-herói entra em cena. É bom que haja pessoas ansiosas para ajudar as próprias comunidades", declarou ele em entrevista à rede CNN. E até Hollywood já embarca na onda: está prevista para 11 de junho a estreia no Brasil de Quebrando Tudo (Kick-Ass), filme que liderou as bilheterias americanas com a história de um jovem que resolve combater o crime fantasiado - e encontra outros como ele. É, claro, uma comédia.
Super-Herói viu o filme e não gostou muito, por achar que ridiculariza algo que ele leva muito a sério. Mas não se incomoda diante de uma pergunta bastante repetida: os super-heróis da vida real não passam de adultos que não querem enfrentar a própria vida? "Eu acho que as pessoas são conformistas", ele responde. "Eles acham que nós devemos viver apenas vidas normais. Vidas normais são um saco."
Para saber mais
Watchmen
Alan Moore & Dave Gibbons, Panini Livros, 2009.
Fredric Wertham and the Critique of Mass Culture
Bart Beaty, University Press of Mississippi, 2005.
worldsuperheroregistry.com
reallifesuperheroes.org
Se você acha que está faltando conflito, não falta mais: protegidos pelo anonimato virtual, já começam a surgir os primeiros supervilões. "Suas ações não significam nada para mim. Vocês heróis são como um brinquedo de plástico. Um inseto pedindo para ser esmagado", desafiou Horizonte Negro em seu vídeo de apresentação no YouTube. Como a maioria dos heróis da real, ele também não perde a chance de dar entrevistas. "Não pode haver um super-heróisem um super-vilão", defende. "E, como os super-heróis estão se espalhando por aí, aqui estou." E no que ser um vilão pode ser enriquecedor? "Eu gosto de ver adultos e crianças sofrer." Como os heróis se reúnem em grupos, os "supervilões" também formaram o seu: o Círculo Negro - por enquanto, suas maldades ficaram só na promessa. E sinta-se perdoado quem começar a rir sabendo que um dos artífices das forças do mal é o Masturbador Negro.
Mas a internet ainda não foi capaz de proporcionar a qualquer dos novos heróis o tipo de fama do veterano Superbarrio Gómez, na ativa desde os anos 80. Quando jovem, nos anos 70, foi guerrilheiro e afirma ter participado de 3 assaltos a bancos. Mais tarde, nos anos 80, o militante passou a se apresentar como um bizarro personagem que, com uma máscara de luta livre e um uniforme que lembra o do Chapolin Colorado, começou a aparecer em protestos populares e greves de trabalhadores na Cidade do México. Embora nunca tenha concorrido em seu país, em 1996 se tornou uma celebridade internacional ao se proclamar candidato alternativo à Presidência dos EUA.
Desde então, foi tema de dois livros, apareceu na série inglesa de quadrinhos 2000 AD Presents e também foi tema de um curta-metragem animado, La Vuelta de Superbarrio ("O Retorno de Superbarrio"). Com quase 60 anos - sua idade correta é desconhecida -, aposentou-se no início da década e revelou a identidade secreta: Marco Rascón Córdova. Mas, assim como o personagem Fantasma, a honra de ser Superbarrio parece passar adiante: desde 2005 outro sujeito veste o uniforme. Sua página no Facebook informa: ainda está na ativa.
Vida real
A Califórnia é um dos estados americanos onde o Olho pode agir. Na Carolina do Norte, por exemplo, cidadãos comuns são proibidos de prender alguém. Se algum deles fizer isso, pode ser detido por sequestro. Apesar de até achar positivo um grupo de cidadãos dispostos a ajudar, a polícia de San Diego, também na Califórnia, que vive uma epidemia de heróis, deu o recado: o combate ao crime só pode ser feito sem violência. E sugere aos heróis apenas denunciarem crimes e depois servirem de testemunhas. A resposta do público - como era de esperar - fica entre o apoio e o deboche. Em Nova York, um encapuzado chamado Vida reclama de moradores que atiram objetos das janelas - o paladino da justiça foi atingido por um pedaço de carne crua.
Mas os super-heróis da vida real têm um motivo para não desanimar: conseguiram empolgar ninguém menos do que Stan Lee, o criador de Hulk, Homem-Aranha, Homem de Ferro e outros heróis. "Se alguém está cometendo um crime, se alguém está machucando outra pessoa, é quando um super-herói entra em cena. É bom que haja pessoas ansiosas para ajudar as próprias comunidades", declarou ele em entrevista à rede CNN. E até Hollywood já embarca na onda: está prevista para 11 de junho a estreia no Brasil de Quebrando Tudo (Kick-Ass), filme que liderou as bilheterias americanas com a história de um jovem que resolve combater o crime fantasiado - e encontra outros como ele. É, claro, uma comédia.
Super-Herói viu o filme e não gostou muito, por achar que ridiculariza algo que ele leva muito a sério. Mas não se incomoda diante de uma pergunta bastante repetida: os super-heróis da vida real não passam de adultos que não querem enfrentar a própria vida? "Eu acho que as pessoas são conformistas", ele responde. "Eles acham que nós devemos viver apenas vidas normais. Vidas normais são um saco."
Para saber mais
Watchmen
Alan Moore & Dave Gibbons, Panini Livros, 2009.
Fredric Wertham and the Critique of Mass Culture
Bart Beaty, University Press of Mississippi, 2005.
worldsuperheroregistry.com
reallifesuperheroes.org
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