Por Paulo H. Cecconi
Data: 18 julho, 2014
Editora: Mythos Editora – Edição especial
Autores: Mark Millar e Kek-W (roteiro) e Chris Weston (arte).
Preço:R$ 16,40
Número de páginas: 96
Data de lançamento: Maio de 2014
Sinopse
Um padre usa os recursos necessários, incluindo a violência, para combater o mal e o pecado no futuro.
Positivo/Negativo
A lei de Canon é mais uma investida da Mythos, proveniente da ótima publicação Dredd Megazine. A história se divide em duas partes: a primeira, escrita por Mark Millar, num período no qual ainda não trabalhava para o mercado norte-americano, e a segunda, com enredo de Kek-W, que assumiu o título após a saída de Millar. A arte é do excepcional Chris Weston, no início da carreira.
No mundo de Canon Law, o apocalipse já aconteceu: os mortos voltaram a caminhar sobre a Terra, mas Deus não apareceu para buscar uma só alma. Assim, o mundo ficou superpovoado. Para lidar com essa intempérie de problemas de ordem espiritual, foi formada uma elite de “padres de ação”, que fizeram um juramento de combater todo o mal e o pecado.
Na primeira história, Canon se aventura no Paraíso para perseguir o maior detetive de todos os tempos, Sherlock Homes, que se aliou ao seu inimigo, o Professor Moriarty, para matar Deus.
Canon parte acompanhado por Watson, o eterno escudeiro de Holmes, e pelo irmão do detetive britânico, um brilhante psicopata usado pelo megapadre unicamente por causa de suas capacidades intelectuais e por conhecer bem Sherlock, o que o torna uma eficiente bússola.
Já na terceira página, vê-se dois elementos da escrita de Millar que o acompanhariam pelo resto da carreira: a violência e a intenção de chocar. A arte mostra Holmes e Moriarty mortos; o primeiro na cama, segurando uma faca, e o outro no chão. Ambos nus, sugerindo que o pacto suicida teria envolvido uma aproximação de intimidade física entre os ex-inimigos.
Embora não sejam impecáveis, as histórias são criativas e dinâmicas, e cumprem o papel de entreter. Millar avança no absurdo e no fantasmagórico com criativas justificativas para o acesso dos “heróis” encarnando no plano espiritual, uma visão pitoresca de Deus (reforçada pela arte, como será mencionado adiante) e uma conclusão inusitada.
Uma publicação que provavelmente teve mais força na época em que foi lançada, quando os repetitivos elementos de Millar não haviam saturado seus enredos e os contratos cinematográficos permitiam um trabalho mais honesto.
Na segunda parte, o escritor Kek-W (pseudônimo de Nigel Long) expande as referências históricas e literárias iniciadas por Millar no universo de Canon. Sigmund Freud, Aleister Crowley, Júlio Verne e Albert Einstein (com direito a algumas participações mais rápidas, mas não menos divertidas de outras figuras) são jogados no enredo, que tem como cerne a viagem do herói ao mundo do subconsciente.
Kek-W mantém o teor fantástico e ainda empurra os conceitos e teorias metafísicas numa história levemente mais complexa, porém, com um ritmo menos frenético do que a anterior, gerando um balanceamento curioso para a revista.
Contudo, o que rouba a atenção é o trabalho de Weston. Na primeira, as cores do artista explodem das páginas, contribuindo especialmente com a sequência no Paraíso, na qual números e bizarros demônios tomam conta do Céu, que possui uma arquitetura imponente, com elementos das construções romanas. E com as interpretações de Deus (são duas): a primeira, cuja estética lembra algumas criações de Jack Kirby, e a segunda, um festival ambulante paranoico de referências filosóficas.
No segundo ato, o domínio de página e de anatomia do desenhista está mais seguro e profissional, com cenários e objetos ainda mais impecáveis.
O êxtase visual surge em uma página dupla quase no fim da edição, quando Gaya (a mãe Terra) surge diante do religioso anabolizado. É outra imagem que oferece uma abundância de referências e cores fortes e harmoniosas.
De todas as qualidades de A lei de Canon e da própria Dredd Megazine, o que mais merece aplausos é a atitude da Mythos em publicar material inédito no País. A editora tem provado que é possível introduzir novos universos e propostas e obter sucesso. Nesse caso, com as histórias da ótima revista britânica 2000 AD, casa original de Dredd e companhia. Que os fãs e os meios que divulgam quadrinhos saibam reconhecer essa iniciativa.
Fonte: http://www.universohq.com/
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