segunda-feira, 1 de julho de 2013

"Apesar de estar fardado, estou aqui só para ajudar vocês", disse PM após ser ferido durante protesto


Sargento atingido por uma pedrada na manifestação de quinta-feira relembrou a noite em que sofreu o quarto ferimento em sua carreira de 33 anos na Brigada Militar

"Apesar de estar fardado, estou aqui só para ajudar vocês", disse PM após ser ferido durante protesto Anderson Fetter/Agencia RBS
Sargento Teixeira ajudava na contenção de vândalos para resguardar manifestantes que atendiam jovem feridaFoto: Anderson Fetter / Agencia RBS
Ferido no protesto da última quinta-feira, o sargento Elso da Silva Teixeira, 53 anos, deve ficar afastado do trabalho por 15 dias. O policial do 26º Batalhão de Polícia Militar, de Cachoeirinha, teve o olho atingido por uma pedra enquanto tentava conter uma ofensiva de vândalos, nos arredores da Praça da Matriz, e resguardar um grupo de manifestantes que acudia uma adolescente desacordada.
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Constatada a lesão na retina, a recomendação médica agora é de repouso completo, além da administração de cinco colírios e um remédio via oral. Depois do primeiro atendimento, no Hospital de Pronto Socorro (HPS), minutos após o ataque, Teixeira foi avaliado nesta sexta-feira por um oftalmologista no Hospital da Brigada Militar. Trata-se do quarto episódio em que se machuca durante os 33 anos de serviço na corporação: já sofreu um profundo corte a faca e foi baleado duas vezes.
Na quinta-feira, Teixeira havia sido destacado para patrulhar as imediações da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, no bairro Praia de Belas, coibindo possíveis saques. Fez algumas abordagens a passantes, nas quais apreendeu garrafas de vidro, pedaços de ferro e sinalizadores em mochilas, e teve, então, de atender a um chamado do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), que solicitou reforço para controlar um tumulto na Rua Jerônimo Coelho, próximo à Praça da Matriz. No deslocamento para o Centro, logo percebeu que a nova demanda seria mais trabalhosa.
— A coisa lá estava feia. No viaduto da Otávio Rocha, tivemos que parar. Era muita pedra. Estavam quebrando tudo mesmo — lembra Teixeira.
Gritos de "sem violência" e "atira"
Encontrou a viatura de colegas em frente a um prédio onde um grupo cercava uma menina caída na calçada. Inconsciente, provavelmente devido à aspiração de gás lacrimogêneo, a jovem de 14 anos respirava com dificuldade. Cinco policiais em linha procuravam barrar um ataque com pedras, garrafas e bolas de gude vindo de mascarados e encapuzados posicionados na praça, enquanto os manifestantes tentavam reanimar a garota. Sem capacete ou escudo, o sargento se posicionou atrás dos companheiros, empunhando uma espingarda calibre 12. "Sem violência", pediam alguns pela rua. "Atira!", gritavam outros.
— Começaram a investir contra nós. Eles avançavam e voltavam, avançavam e voltavam. Tentamos primeiro verbalizar para eles se afastarem, mas não quiseram, né? Era muita pedra, aí fizemos uso de munição antimotim para dispersar. É que nem um grão de arroz, não causa lesão, é mais para assustar mesmo. Não causa o mesmo dano do baletão (bala) de borracha — explica Teixeira.
Com a intensificação do confronto, voluntários levaram a adolescente para perto da escada de entrada do Edifício Marinho Chaves, afastando-se da rota dos objetos arremessados. Em seguida, um bombeiro saiu carregando-a nos braços. Alvejado por uma pedra "do tamanho de uma laranja", Teixeira logo se refugiou no mesmo local. Uma moça lhe alcançou um casaco branco para que pudesse conter o sangue dos ferimentos no olho e no nariz. A mesma ambulância transportou Teixeira, a menina e o namorado para o HPS.
— O que eu estou fazendo aqui? — perguntou ela, muito nervosa, ao despertar.
— Apesar de eu estar fardado, estou aqui só para ajudar vocês — respondeu o sargento.
Conversaram até que ela se acalmasse. Separaram-se ao chegar ao hospital, pouco depois das 21h de quinta. Liberada, a jovem saiu às 22h30min. O policial, uma hora depois. Teixeira não perguntou o nome da menina, que não foi localizada pela reportagem.
Questionado se teme alguma sequela na visão, o sargento garante que não. Nega, igualmente, qualquer receio de voltar ao trabalho.
— É da profissão, né? Quem está na chuva é para se molhar.

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