Assaltantes matam padre. Eduardo Teixeira, 35 anos, e um amigo, também sacerdote, ofereceram carona a dupla que os atacou no Vale do Sinos
ÁLISSON COELHO | VALE DO SINOS/CASA ZERO HORA
“Não reage Eduardo, não reage”. O apelo do padre Rafael Barbieri, 37 anos, ao colega Eduardo Teixeira, 35 anos, foi ouvido por uma moradora do bairro Jardim Mauá na noite de domingo. Eduardo reagiu. Saiu correndo pedindo ajuda, e foi morto durante um possível assalto em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.
Amigos há oito anos, Eduardo e Rafael haviam jantado em Estância Velha. O momento era de celebração, já que Rafael tomou posse no domingo como pároco da igreja Nossa Senhora das Graças, no bairro Rondônia, em Novo Hamburgo.
Os dois religiosos saíram de Estância Velha pouco depois das 23h. No meio do caminho, porém, os padres se perderam.
– Eles teriam parado o carro e abordado os dois homens pedindo ajuda para chegar à paróquia do bairro Rondônia. Os assaltantes teriam dito que não só sabiam o caminho, como estavam indo para lá, se oferecendo para servir de guia – diz o titular da Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo, Enizaldo Plentz.
Dentro do carro, anunciaram assalto. De acordo com o padre Rafael, os dois homens estavam armados com revólveres.
Os assaltantes mandaram que o padre parasse na esquina das ruas Barão de Santo Ângelo e Tarso Dutra, ao lado de uma área pertencente ao Parque Henrique Luis Roessler (Parcão). Em seguida, os dois padres foram obrigados a entrar cerca de 30 metros por uma trilha dentro do Parcão.
No meio do caminho, Eduardo teria reagido e foi baleado no peito. Logo após o disparo, os ladrões fugiram levando o carro – o Corsa foi encontrado abandonado em Campo Bom na tarde de ontem.
Padre Rafael ainda tentou reanimar o amigo, que morreu no hospital.
Antes do socorro chegar, o morador de uma casa próxima ainda ouviu Rafael suplicar:
– Respira Eduardo, respira!
Comoção em Campo Bom
Padre da Paróquia de Santa Terezinha, de Campo Bom, Eduar- do Teixeira era benquisto e respeitado na comunidade. Durante o velório, na tarde de ontem, uma multidão de amigos e fiéis lotou a igreja em que o padre atuava.
Uma missa deve ser realizada hoje, às 8h. O corpo será sepultado no Cemitério Católico de Campo Bom.
– É uma perda muito grande, éramos amigos há mais de oito anos. Sabemos que essas coisas podem acontecer, mas não esperamos – lamentou o padre Rafael Barbieri.
Eduardo será enterrado no mesmo dia em que completaria três anos de sacerdócio. A última missa rezada por ele foi no sábado, no casamento do irmão. Em janeiro assumiria a Paróquia São Jorge, no bairro Campina, em São Leopoldo. Entre as atividades sociais realizadas, uma das mais importes era a vinculada a jovens de comunidades carentes.
ENTREVISTA. “Entraram no carro e sacaram a arma” - Rafael Barbieri - Padre de 37 anos
Ainda se recuperando do assalto do qual foi uma das vítimas, o padre Rafael Barbieri falou com Zero Hora antes do velório do colega, padre Eduardo. Ele contou o que aconteceu na noite de domingo, revelou detalhes que podem auxiliar na investigação policial e lembrou do desespero de ver o amigo morrer.
Zero Hora – Com o aconteceu a abordagem dos assaltantes?
Padre Rafael – Nós voltávamos de uma janta, e meio que nos perdemos dentro de Novo Hamburgo. Paramos para pedir ajuda, e eles disseram que iriam na mesma direção. Pensamos que íamos receber ajuda mas fomos assaltados.
Zero Hora – Como foi o momento que vocês foram rendidos?
Padre Rafael – Eles entraram no carro, e um pouco depois os dois sacaram armas. Eles nos disseram o caminho que deveríamos a tomar e, quando chegamos àquele local, mandaram parar o carro e entrar em uma trilha.
Zero Hora – O que aconteceu no momento da morte do padre Eduardo?
Padre Rafael – Eu estava entregando a minha carteira, quando o padre Eduardo saiu correndo, em direção ao carro e à estrada. Ele saiu pedindo ajuda. Então um dos assaltantes correu até ele, e houve um princípio de luta. Em seguida, aconteceu o tiro. Foi tudo muito rápido.
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