sábado, 20 de abril de 2013

O Sombra!

De todos os aventureiros de revistas policiais (“pulps”) e programas radiofônicos, o Sombra talvez tenha sido o que teve a criação mais curiosa. Para começo de conversa, no início ele não era o solucionador de crimes misterioso que conhecemos hoje, de chapéu, sobretudo e com aquele característico nariz aquilino. “O Sombra” era a voz de abertura do programa radiofônico “Detective Stories” (baseado no “pulp” de mesmo nome). 

O tal apresentador misterioso (James LaCurto e, depois, Frank Readick), diz a lenda, foi idéia de um dos roteiristas, Harry Charlot, que sugeriu a criação de um locutor chamado “O Sombra”. Dave Chrisman e Bill Sweets, da agência publicitária patrocinadora do programa, ampliaram o papel daquela onisciente voz sem corpo: ao invés de apenas abrir o programa, ele também seria o narrador. 

O “pulp” “Detective Stories” era publicado pela Street and Smith, que, esperta como ela só, esperava que o “show” alavancasse as vendas da publicação. Mas, para a surpresa da editora, o misterioso narrador de “Detective Stories” se revelou mais interessante do que as histórias em si (ele literalmente roubava o programa), e os ouvintes quando iam às bancas não pediam a “Detective”, mas “a revista do Sombra”, uma revista... que não existia!

Sem perder tempo, a Street and Smith incumbiu o jovem escritor (e ex-mágico) Walter B. Gibson de escrever as aventuras próprias do Sombra. Foi Gibson que, em 1930, usando o pseudônimo de “Maxwell Grant” (na época era moda autor de “pulps” e HQs usar pseudônimo), criou o Sombra que conhecemos hoje: um vigilante misterioso, vestido de preto, que atuava predominantemente à noite, valendo-se da sua aparência aterradora e psicologia para aterrorizar a bandidagem. 

Como vocês já devem ter se dado conta, esse protótipo foi copiado mais tarde por alguns heróis de quadrinhos, como Batman e Fantasma. Assim, com data de 1º de abril de 1931 na capa, surgia a primeira aventura do novo herói: “A Sombra viva”. (sim, o Sombra foi criado em 1930, mas só foi para as bancas no ano seguinte)

Nem é preciso dizer que o sucesso foi imediato e o “pulp” do Sombra, planejado inicialmente para ser quadrimestral, se tornou mensal. E o barato era que, no início de cada aventura, sempre havia a frase: “Dos arquivos particulares do Sombra, como recontados a Maxwell Grant”. Era um recurso comum nos “pulps”, para dar a impressão de que o herói existia mesmo – afinal, muitos colecionadores, ao lerem historias tão empolgantes, ficavam com uma pulga atrás da orelha: será que não haveria algo de verdadeiro nessa aventura? Será que aquele herói das paginas não poderia ser uma pessoa real? 

A garotada de repente começou a usar capa preta, chapéu de aba larga e imitar uma sinistra e sonora risada, escondida atrás de um muro ou porta. Era a risada do Sombra! 

Nas primeiras histórias, o Sombra não era exatamente o personagem principal. Ninguém sabia quem ele de fato era (“Meu passado é só meu”, disse uma vez). Na verdade, inicialmente nem Gibson (e seus roteiristas auxiliares) parecia saber quem o personagem era: as histórias giravam em torno dos que se envolviam com o Sombra, os agentes que ele chefiava e os vagabundos que ele empacotava em Nova York. Ele atuava mais nos bastidores e só costumava aparecer pra valer mesmo quando o leitor descobria o esquema da trama. E ainda assim parecia mais um vilão daqueles clássicos seriados de matinê do que um herói combatente do crime. Ele costumava assumir duas identidades civis: o milionário Lamont Cranston e o piloto Kent Allard. 

Com os anos, algumas passagens do passado do Sombra foram reveladas em doses homeopáticas: ele foi agente na Moscou pré-revolucionária durante a guerra, enfrentou Rasputin, conheceu a princesa Anastásia e ganhou do Czar seu opala-de-fogo: um girassol (uma variedade de quartzo brilhante empregado em joalherias) que usa no anel da mão esquerda para hipnotizar os inimigos.





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