quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Um mês do assassinato do papeleiro em Caxias do Sul.


MIGUEL, CONTINUE FALANDO

ZERO HORA 25 de outubro de 2012 | N° 17233. ARTIGOS


Renato Ariotti*
No dia 23 de outubro, celebrou-se um mês do assassinato do papeleiro Carlos Miguel dos Santos, que teve seu corpo encharcado por gasolina e ateado fogo. Quatro adolescentes que estão recolhidos no Case em Caxias do Sul queriam dar um susto no papeleiro por causa de uma pequena “dívida”.

Na última sexta feira à tarde, estive visitando o terreno baldio, no bairro Pio X, na cidade de Caxias, onde Miguel, de 45 anos, o papeleiro, foi martirizado.

Há mais de uma semana, estão comigo, na casa paroquial Santa Catarina, do bairro com o mesmo nome aqui em Caxias, seus dois cachorrinhos: Scooby e Preta. Sinto que estão se adaptado e muito bem. Também está aqui a carrocinha (quis que viesse junto, pois cachorro é fiel ao dono e também às coisas do dono) utilizada pelo papeleiro, na labuta cotidiana. Sua diária era de R$ 5 a R$ 10. Eram felizes, ele e seus dois companheiros inseparáveis.

Agora, tenho mais uma coisa que era dele. Por ocasião da visita ao terreno, recebi, de uma pessoa que mora próximo ao local e conhecia o Miguel, a faca, “a dívida”, o motivo do crime.

Os adolescentes roubaram a faca do Miguel que, para tê-la de volta, deveria pagar R$ 2. Não tinha, então os adolescentes adquiriram R$ 2 de gasolina, jogaram em seu corpo e atearam fogo. Morreu dois dias depois.

No dicionário, faca significa instrumento cortante, composto de lâmina e cabo. A “faca do Miguel” está bem enferrujada, mede 35cm, até é cortante, mas não tem cabo.

Faca é um utensílio doméstico usado para cortar, para descascar, usada por todos num bom churrasco; mas naquela noite foi o motivo da discórdia e, como em muitos casos, outras facas são utilizadas para roubar, destruir e matar.

A faca é um ótimo instrumento, porém depende de quem a utiliza. Diz o apóstolo Paulo: “Tudo posso, mas nem tudo me convém”.

O mandamento de Deus, não matar, continua vivo e atual. Vivemos com medo e inseguros. Creio que não é na repressão ou pondo mais policiais nas ruas que iremos resolver o problema da violência. Uma das soluções está na família, na escola, na educação das crianças, adolescentes, jovens e adultos. Mas como educar, num mundo marcado pela insegurança, pela competição, pelo ciúme, pela ameaça?

Vivemos numa sociedade do “ah, não dá nada” e, por causa da indiferença de tantos e porque nos acostumamos com o mal, a violência continua e a cada dia cresce mais.

Nos trancamos em nossas casas e prédios, nos protegemos com cercas alarmes, câmeras e, ainda por cima, escrevemos: “Sorria, você está sendo filmado”.

Miguel, por favor, já que estou cuidando dos bens que conseguiste em vida, cuida de nós, dali junto de Deus, nosso Pai.

*Padre

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