Fundação Alejandra Forlan!
Uma bela mulher que luta por uma sociedade mais justa.
" – Se você conhecesse minha irmã,
não me perguntaria isso."
28 de agosto de 2010
MÁRIO MARCOS DE SOUZA
Diego e Alejandra
Sempre que alguém pergunta a Diego Forlán se por vezes o sucesso na carreira não sobe à cabeça, deixando-o com aquela sensação de se achar superior, que costuma perturbar alguns ídolos do esporte, o uruguaio eleito melhor jogador da Copa do Mundo da África reage com impaciência:
– Se você conhecesse minha irmã, não me perguntaria isso.
Alejandra, 36 anos, a irmã, é psicóloga, agente de jogadores, fundou e dirige em Montevidéu uma associação de apoio a vítimas do trânsito, como ela, e virou espécie de referência de coragem na família. É paraplégica desde os 17, quando sofreu um acidente, perdeu o noivo e nunca mais saiu da cadeira de rodas. Poderia desistir da vida, mas encarou sete meses de uma sofrida internação hospitalar e, a partir daí, virou a fortaleza emocional da família e, especialmente, do irmão famoso.
A história de Alejandra é a parte mais comovente da biografia de Diego Forlán, resultado de longas conversas com o jornalista espanhol Enrique Ramón Pellicer (livro ainda sem edição em português). É também uma espécie de chave para entender a própria personalidade deste atacante eleito melhor jogador da Copa da África e elogiado por Pelé como o maior destaque do futebol mundial atual. Não haveria o atual Diego sem Alejandra – nem a família teria encontrado forças para resistir ao impacto do acidente se não fosse a coragem dela, desde o momento em que despertou na cama do hospital. Diego Forlán lembra bem.
Ele tinha apenas 12 anos quando foi acordado pelo irmão mais velho, no meio da madrugada, avisando sobre o acidente daquela noite de setembro de 1991, quando o carro dirigido pelo noivo derrapou na pista. Vestiu sua roupa e ainda sonolento acompanhou a família ao hospital. No primeiro momento em que entrou no quarto, percebeu um leve movimento nas pernas da irmã e deduziu que talvez a situação não fosse tão grave. Só depois foi saber que tinha visto apenas um espasmo muscular – a irmã nunca mais caminharia. Foi até a cama, abraçou Alejandra, e ela falou algo em seu ouvido. Diego não lembra dos detalhes, mas nunca esqueceu do principal da mensagem: a irmã repetia que queria muito a todos – era seu primeiro gesto de encorajamento
... Um ano depois do acidente, ao cumprir um período de recuperação em um hospital de São Paulo, Alejandra ouvia e aconselhava tantos os outros pacientes que era chamada de psicóloga. Estava decidido. Na volta ao Uruguai, entrou na faculdade. Como não podia escrever, todos seus testes eram orais. A mãe, Pilar, lia todos os textos. Forlán não tem dúvidas de que Alejandra mudou a sua história e a da família. Ele passou a dar mais importância para a vida, é embaixador da Unesco desde os 25 anos, participa de encontros com crianças carentes ou doentes, ajuda a irmã no trabalho da fundação. Basta prestar atenção nas atitudes e nas entrevistas de Diego Forlán, imunes a deslumbramentos mesmo diante de uma campanha como a da África, para se perceber o lado Alejandra de sua personalidade.
Até porque, como ele mesmo revela no livro, sempre que um dos integrantes da família tem um eventual desvio de conduta, pode se preparar. Sabe que vai levar uma reprimenda da vigilante e corajosa Alejandra – a irmã que mudou a vida do melhor jogador da Copa.
Visite:
http://fundacionalejandraforlan.org/
_________
Zero Hora, 28/08/2010, coluna do Mário Marcos de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário