terça-feira, 15 de outubro de 2013

Desenhado pelo campineiro Eduardo Ferigato, o Fantasma está de volta

E logo será publicado no Brasil pela Mythos Editora

Lançada nos Estados Unidos sob o comando de Alex Ross, The Last Phantom traz nova versão do Espírito-que-Anda com traço brasileiro


Os tambores dos Wambesi, Longo, Bandar e demais tribos de Bengala anunciam a boa nova: o Espírito-que-Anda está de volta! E não é qualquer um da família que há 400 anos combate a pirataria e a bandidagem em suas mais diversas formas. Trata-se do Último Fantasma. Mas espere, o som dos tambores traz mais uma novidade!  A nova encarnação do primeiro herói mascarado do mundo, cirado em 1936, tem origem brasileira. O pai do novo Fantasma – pelo menos no traço – é Eduardo Ferigato, desenhista de 34 anos nascido em Campinas.


Lançado pela editora Dynamite nos EUA, sob a coordenação de Alex Ross (desenhista mundialmente famoso por seu traço realista em super-heróis), The Last Phantom conta a história do 21º Fantasma, teoricamente filho do herói mais conhecido no Brasil - clique aqui para ler a resenha completa, mas atenção: ela traz spoilers. Casado com a bela nativa Radhi e pai do menino Mosi, Kitdrige Walker exerce seu cargo de guardião de Bengala de maneira, digamos, mais macro: é presidente de uma fundação filantrópica gigantesca que recolhe e administra fundos em prol do país africano. Mas tanto dinheiro assim acaba atraindo desgraça para Kit.

O menino Mosi e a bela Radhi: filho e esposa do último Fantasma têm destino trágico


“Ele é o filho do Fantasma clássico
, aquele casado com a Diana Palmer, que aparece na história em flashbacks onde o novo Fantasma se lembra do duro treinamento com o pai para se tornar o novo Espírito-que-Anda. Ele tinha decido uma abordagem mais filantrópica no combate ao crime e às ameaças contra seu país em vez de usar sempre o uniforme,  mas o assassinato de esposa e filho fazem com que ele mude de ideia e vista novamente a máscara e os anéis”, conta Ferigato.



Como era de se esperar, alguns leitores mais saudosistas resistiram um pouco ao novo argumento, mas foram poucos. A primeira edição esgotou nas comicshops americanas e a maioria absoluta das críticas foi positiva. “A resposta de alguns fãs foi ruim nas primeiras edições por conta das mudanças, mas agora que eles estão vendo o rumo da história e que a mitologia do personagem tem sido cada vez mais respeitada, até os mais exigentes estão começando a se interessar pelo novo Fantasma”, conta Ferigato.




Realmente, ainda que o argumento de Scott Beatty (que também reformulou Buck Rogers para a Dynamite) tenha causado uma estranheza inicial, já nos primeiros números os leitores comemoraram a presença do lobo Capeto, do cavalo Herói e até mesmo de um (obviamente) velho Guran. E, se a história teve um ou outro questionamento, o mesmo não se pode dizer da arte do campineiro Ferigato, que só rendeu elogios e até mesmo comparações com outras feras internacionais do traço – entre os quais Mike Mignola, mais conhecido pelo personagem Hellboy.



“Esses elogios me fazem sentir muito bem, com certeza. Espero um dia chegar no nível de um artista tão talentoso e criativo como o Mignola, que é o meu preferido. E também servem como recompensa pelos vários anos de persistência e treino para entrar nesse mercado tão exigente como o dos quadrinhos americanos”, diz.


O autor também recebe correspondência de fãs que querem comprar páginas originais, bem como pedidos diferenciados. “Um que me chamou mais a atenção foi um canadense que vai me enviar um caderno onde ele coleciona desenhos de vários artistas que já trabalharam o personagem. Pediu que eu fizesse um desenho do novo Fantasma para ele e enviasse de volta. Achei muito legal da parte dele e me mostrou como os fãs são fiéis ao personagem no mundo todo”, revela. 


Novos convites para desenhar lá fora também apareceram como consequência do traço do autor, mas ele conta que só poderá assinar novos contratos quando terminar este, dentro de dois anos.

Oportunidade e honra


Ferigato formou-se como desenhista por meio de cursos em Campinas e São Paulo. Entre outros, teve como professores Marcelo Campos (Liga da Justiça, X-Man, Homem-Aranha), Greg Tochinni (Thor, 1602 Parte 2, Lanterna Verde), Otavio Carielo (Wolverine e Rainha dos Condenados), Roger Cruz (X-Force, X-Man, Hulk) e o premiado caricaturista campineiro Paulo Branco. Deste último, por sinal, tornou-se colega de trabalho: ambos ministram aulas na Pandora Studio, em Campinas.


A oportunidade para desenhar o Fantasma surgiu por meio do estúdio Art & Comics de São Paulo. “Meu agente Joe Prado entrou em contato comigo dizendo que estavam interessados no meu trabalho para a série. Esse tipo de trabalho sempre é disputado com muitos artistas, os editores recebem dos agentes vários portfólios para análise e escolhem o artista que entendem ser o melhor para o projeto”, conta.



Selecionado com as bênçãos de Alex Ross, o campineiro assinou contrato para 24 edições. “Não necessariamente todas do Fantasma, eles podem me colocar em outros projetos também. A Dynamite tem grandes personagens, como Zorro, Besouro Verde, Robocop, Exterminador do Futuro”, conta. Mas pelo menos até o final do primeiro arco da historia, na edição seis, o brasileiro é o titular do Espírito-que-Anda (atualmente ele está finalizando o número cinco).





Para Ferigato, trabalhar com o Fantasma é uma honra. “Eu conhecia o personagem de filmes e desenhos que assistia quando era mais novo. Meu pai também era fã e me lembro dele falando sobre a hereditariedade e sobre ele ser o Espírito-que-Anda. Como fã de quadrinhos me sinto honrado e muito entusiasmado com a chance de desenhar um personagem com tanta bagagem e história”, afirma. 


Ele destaca que Alex Ross – bem como o editor da Dynamite Joseph Rybandt e o roteirista Scott Beatty – lhe dão muita liberdade nos desenhos e na concepção das páginas. “Só quando tenho dúvidas sobre o uniforme ou algum detalhe, os consulto para que tudo fique de acordo com o que foi concebido para a história. E ter as capas de um artista como o Alex Ross em revistas desenhadas por mim é uma grande honra.”     


O visual novo do Fantasma foi todo desenvolvido por Ross, mas todos os demais personagens que aparecem foram criados por Ferigato a partir da orientação do roteirista. “E tenho liberdade total em mudar algumas cenas do script de maneira que elas funcionem melhor visualmente”, diz.                               



Uniforme Vermelho



Apesar de originalmente o Fantasma ter uniforme roxo, em países como Brasil, Espanha e Itália o personagem foi lançado desde as primeiras histórias com fantasia na cor vermelha (segundo a lenda, por problemas gráficos para reproduzir o tom original). E esta nova versão do Fantasma faz, digamos, menção ao rubro de maneira inusitada: após um acidente de avião, o Espírito-que-Anda tem o uniforme completado pelo próprio sangue que banha seu corpo.


“Ainda não vi como vai ficar a cor dele no uniforme definitivo, pois comecei a desenhá-lo agora, na edição cinco. Mas a idéia do Alex Ross é que a roupa tenha transições de cores ao dobrar o espectro de luz. Talvez esse recurso visual seja para homenagear tantos os fãs do uniforme roxo como do vermelho”, acredita Ferigato.


Ele conta ainda que, apesar de ter se divertido ao desenhar a cena do “uniforme de sangue”, estava muito ansioso para fazer o Fantasma uniformizado de verdade. “Ao ler o roteiro pela primeira vez, mal pude esperar para desenhar a página em que ele vestia o uniforme. Finalmente o Fantasma estava de volta depois de muito tempo sem uma publicação inédita. Ao enviar aquela página para o editor eu escrevi no campo do email: “And the Phantom walks again!” ( E o Fantasma anda novamente!)”



No entanto, nem tudo são louros. Ferigato revela que sente sobre os ombros o peso de desenhar um herói clássico e tão querido, ainda mais em tempos de cobrança via Internet.  “Sinto a responsabilidade de trabalhar com um personagem de peso como esse. A Patrulha da Selva está sempre vigilante nos fóruns e blogs do personagem pelo mundo. Qualquer deslize e posso ser marcado com a caveira”, brinca.             




A pergunta final e que não quer calar é: quando o público brasileiro conhecerá o último Fantasma? A resposta, acredita o autor, depende do próprio público. “Por enquanto não fiquei sabendo de nenhuma previsão de publicação no Brasil. A editora que mantém os direitos de publicação da Dynamite no país é a Panini, então isso também depende muito dos fãs mandarem pedidos à editora solicitando a publicação.”



(publicado originalmente em 9/1/2011) http://www.mundohq.com.br/site/detalhes.php?tipo=5&id=283

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