segunda-feira, 3 de setembro de 2012

'Ainda me pergunto por que houve repercussão tão grande', diz diretora da escola de Isadora Faber


Entrevista


Liziane Diaz Farias, que assumiu culpa por falhas apontadas pela estudante em unidade de Florianópolis, diz caso deveria ter sido resolvido internamente

Lecticia Maggi
Imagem feita por Isadora Faber, de 13 anos, na Escola Básica Municipal Maria Tomázia Coelho, em Florianópolis, e publicada na página "Diário de Classe", no Facebook. Ela diz que as deficiências da escola começam na "porta de entrada"
Imagem feita por Isadora Faber, de 13 anos, na Escola Básica Municipal Maria Tomázia Coelho, em Florianópolis, e publicada na página "Diário de Classe", no Facebook. Ela diz que as deficiências da escola começam na "porta de entrada" - Reprodução
Até uma semana atrás, a Escola Municipal Maria Tomázia Coelho vivia uma rotina pacata em Praia do Santinho, em Florianópolis (SC). A vida na unidade mudou no início desta semana, quando as queixas de uma aluna do 7º ano, Isadora Faber, de 13 anos, começaram a se espalhar pelo Facebook a partir da página "Diário de Classe". Ali, Isadora narra desde julho os problemas típicos de uma escola pública brasileira, como maçanetas quebradas e ausência de professores. A Secretaria de Educação convocou uma reunião de emergência e elegeu uma culpada pela situação: a diretora Liziane Diaz, de 29 anos, que admitiu "fragilidade na administração". Ela mantém a posição na entrevista a seguir, concedida por telefone, mas defende que os defeitos administrativos podem ser explicados pelas virtudes pedagógicas da escola – que podem ser parcialmente comprovadas. No último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a unidade, que possui 632 alunos, obteve nota 6,1 nos anos iniciais do ensino fundamental, superando as médias de Santa Catarina (5,6) e da cidade de Florianópolis (5,8). Nos anos finais do ciclo, o desempenho é inferior: 4,8 – ante 4,9 da média estadual e 4,5 da capital. "Somos muito bem vistos pela rede municipal de ensino, o que faz com que sejamos uma unidade muito procucada por estudantes e seus pais", diz Liziane. Apesar de admitir os tropeços administrativos, ela afirma que ainda se pergunta "por que o caso provocou uma repercussão tão grande". "Acho que podíamos ter discutido mais os problemas em sala de aula e nos conselhos de classe", diz. Confira a seguir a entrevista da diretora.
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Como a senhora tomou conhecimento da página da Isadora?
A escola mantém uma página no Facebook. Há algumas semanas, chegou um pedido para curtir uma comunidade: era a da Isadora, mas eu só soube disso depois, quando retornamos das férias de meio de ano. Em uma das aulas, um professor notou que estava sendo filmado pela Isadora, e os alunos comentaram que as gravações seriam postadas na internet. O professor tomou o celular dela, como é de praxe quando qualquer aluno utiliza o aparelho na sala de aula. Nesses casos, temos como procedimento padrão chamar os pais à escola para que eles retirem o equipamento. Foi o que aconteceu: tivemos um encontro com a Mel Faber, mãe da Isadora.
O que Isadora publica corresponde à realidade da escola?
Existem falhas, é claro, e eu assumo a responsabilidade por isso. Estou trabalhando para saná-las. Tenho um grupo muito qualificado e unido de professores e funcionários. O que Isadora publica é um recorte da realidade: eu gostaria que as pessoas conhecessem a escola como um todo. Somos muito bem vistos pela rede municipal de ensino, o que faz com que sejamos uma unidade muito procurada por estudantes e seus pais: temos até uma fila de espera para novos alunos.
Isadora diz que sofreu represálias da escola. Alguém chegou a pedir a ela ou à mãe dela para que a página fosse retirada do ar?
Não, em momento algum. O que fizemos foi pedir que ela tomasse cuidado ao publicar fotos de professores ou de outros alunos porque todos têm o direito de ter a própria imagem preservada.
Como a senhora e a comunidade escolar se sentem diante da repercussão do "Diário de Classe"?
Estamos, é claro, surpresos. Às vezes, ainda me pergunto por que o caso provocou uma repercussão tão grande. As questões que ela apontou, como problemas estruturais e a dificuldade com um professor de matemática, já foram todas encaminhadas.
Como está a relação dos professores e dos demais estudantes com Isadora?
Queremos que a Isadora se sinta bem na escola, mas os alunos estão divididos. Ainda não consegui fazer uma reunião com todos para falarmos sobre este assunto.
A senhora se arrepende de algo? Acha que poderia ter agido de outra maneira? 
Não sei. Às vezes, me pergunto: 'Por que isso precisou chegar à internet?' Afinal, tentamos fazer um trabalho apurado com os alunos e estamos sempre abertos ao diálogo e às críticas. Acho que podíamos ter discutido mais os problemas em sala de aula e nos conselhos de classe. Mesmo alguns alunos se questionam: 'Será que isso precisava ir parar no Facebook?'
Mas a senhora admite que houve problemas no gerenciamento da escola?Houve dificuldade na gestão do grupo que administra as verbas, e acabamos não utilizando o dinheiro integralmente. Mas, se algo foi deixado de lado, é porque nos dedicamos mais às práticas pedagógicas. Mesmo com um vidro quebrado ou uma fechadura faltando, tivemos um bom nível de rendimento.
A senhora mencionou que a escola mantém uma página no Facebook. Como o espaço é usado pela instituição?
Usamos o Facebook como um mural, onde divulgamos as atividades que fogem à rotina, além do calendário de provas. Rede social ainda não é um assunto sobre o qual tenhamos total domínio. Mas acho que é o momento de refletir sobre como investir nisso.
O que vai mudar na escola daqui para frente?
Já estamos dando um passo para além da crítica. Ela foi feita: agora, é preciso que cada um assuma sua responsabilidade na definição de um novo modelo de trabalho. Queremos que o caso saia do Facebook e venha para dentro da escola para que os alunos sejam atuantes também aqui. 

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